sábado, setembro 30, 2006

but the sea is outside...


acordei delicadamente.
tenho todas as circunstâncias bem na minha frente- amanhecendo-me!

sábado,solidão

saudade. saudade. saudade. saudade. saudade. saudade. saudade. tu, teu beijo, teu cheiro. às vezes parece até que a gente deu nó!

sexta-feira, setembro 29, 2006

Ontem sai com o carro pela primeira vez depois que a bicicleta foi consertada. Senti a diferença, claro! Era noite na praia, a maré bastante alta, o que não permitia muitas acrobacias. Quando te vi, na plataforma, não me parecia estar feliz e então nem abri a porta do carro, preferi eu mesma ir ao teu encontro. Sentamos ali nos primeiros degraus. No final da plataforma o barulho das ondas é ensurdecedor! Ainda mais à noite, ainda mais quando se tem muitas coisas a dizer... lembramos do recado que ficava no portão... Dizias que ainda havia ficado a dúvida em relação ao autor daquele texto. O cara não mora mais lá, mas anda sempre por ali, rodeando a casa e o casal. Não tem nenhum movimento abrupto e as coisas vão bem, ninguém ultrapassa os limites do portão! Conversamos por pelo menos duas horas e a maré cada vez subia mais, acabamos tendo que entrar no carro, tirando-o da areia solta. Pouquíssima luz a nossa volta e o arrepio na pele era constante. A vodka era passada de mão em mão. Gostávamos do gesto, da relação de troca confinada dentro do carro. Havia a suspeita de um olhar distante. Poderia ser o tal homem, ele freqüenta essa parte da praia, ele viria em algum momento... O portão fica logo ali na frente! Mudamos de assunto, tínhamos muito a dizer.
Quando te vi, nessa noite, tive a certeza sobre as azaléias do jardim – era mesmo você que as havia plantado a um tempo atrás! Quando me viu nessa noite, eu estava um tanto impaciente, trazia dentro do porta-malas todas as tuas roupas e dois livros. Logo depois o homem da casa apareceu. Bateu no vidro do carro. Chegou a hora! Saíram juntos. Eu falei das roupas e esperei que as pegasse antes de ir. Simples e trágico!
Hoje à tarde deitei no jardim, vi as azaléias, também a cadeira e o copo de vodka que deixaste. Silenciou-te atrás da dureza do portão.
Não te vejo desde ontem à noite... a sucessão de quinquilharias começou!
Entendeu? é um símbolo, produção social, sabe? era disso que eu estava tentando te falar... arte como produção do olhar, não é atual, é novo! se isso não bastar, tenta entrar no portão!

quinta-feira, setembro 28, 2006


Represente pra mim...
Sem o destino ali colocado as mãos encostavam-se em todos os turnos da refrigeração, mas no instante em que o sol nascia e o mar serenava passavam todas as coisas que tinham que passar. Ninguém se jogava para morrer e nem tomava comprimidos em doses elevadíssimas- aliás essa prática entre os praticantes do amor não tem nada de muito excitante, não!
Foram-se todas essas tentativas amarradas em tons de noir francês...
Agora não dá pra ficar chorando à toa, nem que as vacas fiquem amarelas!
Veste preto e dá um beijo seco... arranja uma solução pra tanta overdose de sentido! A seqüência tem pouca lógica mesmo e se for pra pensar hoje eu não quero que isso faça o meu corpo doer! Já tenho sentido aos barrancos! Definitivamente, traído-me por amor! Vida lívida...
Lembro da tua mordida no meu rosto e ouço Bach urrando...

quinta-feira, setembro 21, 2006

O mercado funciona normalmente todos os dias

Qual a tua dor? Tá doente de que? Pelo menos ‘isso aí’ tá na moda? Nada pior que estar penando por alguma coisa que não seja atraente! Para além disso, meu caro, sofrer pra que?
Li um artigo na revista Trip que me pareceu de bom tom e divertido. Sigo partilhando algumas inter-associações que fiz...
Ah, o mal do século! Ah, os ultra-românticos! Até a década de 50 era chique ser tuberculoso! Dentes amarelos, muita fumaça e tosse pra dar e vender! Poemas bem gesticulados e cerimônias de gala, mas tinha que ter tuberculose!
Anos 60, existencialismo, e a famosa “náusea do Sartre”, quem não lia “A Náusea” de Sartre era defasado mesmo! E não bastando a leitura, tinha que sofrer do mal disseminado pelo livro, afinal, a onda aqui era ser sensível e se encher de questões existenciais: se eu existo, então quem sou? E por aí vai... o que mais me alegra é pensar que era um livro o mediador das mais novas tendências comportamentais! Hoje em dia, teríamos algum livro com o poder de nos comover a ponto de morrermos? Se formos levar em conta os tempos atuais, lemos livros de auto-ajuda e aqui a intenção é a de viver e viver mal! Melhor seria morrer, não acham? Ou a preferência é por ficar sendo vigiado por algum poder divino capaz de nos liquidar a qualquer hora? Ora, ora, é bem melhor usar o corpo, vivê-lo; e a morte, de fato, é uma experiência e tanto de vitalidade! Rárárá... acho que a garota aqui está sofrendo da “náusea do Sartre”, muito tempo depois... nada nada moderna!
Chegamos na década de 70 e, segundo o artigo, vivia-se o tal “bode”. Quem sofria de bode é porque tava mal... e ainda tinha que estar “na fossa”: dor de amor... quando se estava na moda e de bode, o melhor mesmo era ir pra um bar, cantar um samba e beber muito! Afogar as mágoas num belo porre era “de ponta” aqui! Os bodeados estavam a maior parte do tempo encachaçados e cantavam: “pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem...” O artigo ainda apontava como bodeado famoso, na atualidade, o cantor e compositor Marcelo Camelo do Los Hermanos, e com isso muda também o hino bodeado para: “Poderia até pensar que foi tudo um sonho, ponho o meu sapato novo e vou passear, sozinho, como der eu vou até a beira - besteira qualquer - nem choro mais! Só levo a saudade, morena, é tudo o que vale a pena!”
Ai, ai... o bode é contagioso, sem dúvida! E dóóóói...
Nos anos 80, o tédio básico era o grande lance do momento! Ou a pessoa saia para dançar Madonna ou ficava em casa curtindo um gostoso tédio! Nada parecia mais atraente, as sensações e sentimentos tinham perdido a graça - caía tudo num amplo e produtivo tédio! Para completar o visual: muita roupa preta nessa hora! Que tédio!
Eis que chegamos na nossa conhecida década de 90 e aos seus modernos seres hedonistas! Tudo é bem melhor e atual quando se tem prazer, é ou não é? Pois sim, sempre! Sentir náusea? Tuberculose? Estar “na fossa”? Bem capaz!!!
Para a galera dos anos 90 e, porque não dizer, de hoje, é muito mais tesão e moderno tomar um “E”! Muito melhor dançar à base de muuuito ecxtasy a noite toda! No outro dia, pra relaxar, fumar um baseado e/ou cheirar uma carreira pra ficar ligado de novo! Tudo com muito prazer, disposição, um corpo sarado e sem limites para a diversão!
Claro que o futuro não importa! Como estará o corpo daqui a 20 anos é coisa pra tuberculoso pensar! ... sobre a passagem das horas... só interessa aos caras que lêem Sartre, sem falar em ouvir samba! Humpf, só mesmo aqueles velhos que não ‘pegam mais nenhuma’ e só vêem de longe a tal garota de Ipanema...
Importa o presente! As novas tendências! Não dá pra ficar pra trás! Estar na moda é imprescindível e conveniente, afinal!

Viva o atacado/varejo do homem de ilusões!
Da minha parte quero ser Gene Kelly e dançar!
Alguém pra me acompanhar?

domingo, setembro 10, 2006

de pasion...




















juran que el mismo cielo se extremecia al oir su llanto.
como sufria por ella que hasta en su muerte la fue llamando.
juran que esa paloma no es otra cosa mas que su alma!

esas piedras, olas y mar jamás van a saber
de amores!

cantaba...
http://www.youtube.com/watch?v=wRIlj0BGz6Q

o pop overexplorado

O que é que você sabe fazer, hein?
João Ricardo e a Cia. Espaço em Branco em sua mais nova montagem - Andy/Edie - sabem ser eles mesmos com autenticidade.
Num período histórico onde ‘qualidade de vida’ é ser aceito e reconhecido pelos meios de comunicação e mídia, onde o sujeito vem em massa e em série - Andy/Edie explora um ambiente de famosos, de fama, de jogos de poder na direção de tornar-se uma celebridade. Usando a idéia de obra de arte como pano de fundo, mais precisamente a Pop Art e o seu expoente maior - Andy Warhol, vemos em cena personalidades objetalizadas, buscando o reconhecimento da sua autonomia de expressão, de sentimento e de beleza. A motivação, para tanto, está em Andy Warhol e no seu atelier de criação, a Factory, espaço este que transforma o Teatro de Arena e lhe dá um novo look assumidamente underground e pop.
Somos convidados a entrar nessa fábrica encantada das celebridades comandadas por Warhol, num circuito de televisores, ligares em série e que capturam imagens ao vivo, aparecem as primeiras expressões e cenas de um concorrido debut com lindos rostos atônitos pela chance de protagonizar, de ser eleito como pop star. O desejo frenético e capaz de enfrentar os limites do corpo até ser amado e veiculado como ‘a nova tendência do mercado’.
João Ricardo num trabalho de direção voltado para o ator, explora o humano fazendo aparecer nos seus seis atores a complexidade de sentir, de ser corajoso e imponente frente a um ambiente visivelmente hipócrita-irônico. Vemos em cena sensibilidade aglutinada (a ponto de bala), momentos entrecortados de clímax e anti-clímax, uma seqüência de cenas a partir do andar livre dos atores num terreno amplamente corporal e que busca a forma com conteúdo, contendo matéria viva e humana.
São seis diferentes formas, distintos corpos e um desejo único de ser eles mesmos. Os objetos são exatamente esses seis corpos e a sua exploração consciente. O texto é comandado pelo self de cada um deles, projetando em cada fala autenticidade e maior proximidade com o público. Os atores se valem de uma persona(agem) e oferecem o seu corpo como vitrine, como passarela para o desfile desse outro, pouco existindo de interpretação, mas sim de individuação.
Como eu não havia percebido antes que sendo eu; com esse meu cabelo, rosto e corpo tenho o aval necessário para ser exclusivo? Warhol sabe disso e produz em série as excentricidades de cada um. Se uma garrafa de Coca-Cola ou uma embalagem de sopas Campbell’s é por ele transformada em objeto de arte, da mesma forma o homem o pode ser.
O ator Rodrigo Scalari está no papel de Andy Warhol, com uma atuação leve, intercalada por variadas nuances de intenção e transparência no estilo. Extravagante, Rodrigo assume a afetação de Andy, sem esquecer os seus propósitos perante a arte, sem esquecer toda a sua contribuição humana para tanto. Sissi Venturim, numa atuação pungente, é Edie Sedgwick. Ela faz brilhar e leva a sua personagem às cinzas, fusionando o seu corpo com o da personagem numa viagem sensitiva até os seus limites físico-emocionais. Com Alexandra Dias e Michel Capelletti o espaço ganha corpos ‘performáticos’ que desvelam ao público boa parte da intimidade dos seus personagens, através de recortes corporais quase expressionistas. Lisandro Bellotto traz a sua espontaneidade para dentro da cena e Ravena Dutra contorna-a com mistério e beleza.
Andy/Edie conta com um texto atual, inteligente e despojado do jovem dramaturgo porto alegrense Diones Camargo, o qual recebeu o segundo lugar do Prêmio Nacional de Dramaturgia da Funarte 2005. A iluminação é de Jô Fontana e dá todo o glamour para o desfile dos pop stars.
Por fim, que acendam as luzes para Andy Warhol e a sua fábrica mágica da criação! Ao apertar um dos botões da mesa de luz – voilà - passamos de um lugar comum, em meio à multidão, a um outro pleno de atitude, mix e autenticidade.
Frente à frente, uma realidade de homens massificados e em série, e outra, portadora de indivíduos conscientes do seu corpo, individualidade e de toda a diferença que isso faz.
O que é que você sabe fazer? Ou melhor ainda: o que é que você sabe ser?