sexta-feira, setembro 29, 2006

Ontem sai com o carro pela primeira vez depois que a bicicleta foi consertada. Senti a diferença, claro! Era noite na praia, a maré bastante alta, o que não permitia muitas acrobacias. Quando te vi, na plataforma, não me parecia estar feliz e então nem abri a porta do carro, preferi eu mesma ir ao teu encontro. Sentamos ali nos primeiros degraus. No final da plataforma o barulho das ondas é ensurdecedor! Ainda mais à noite, ainda mais quando se tem muitas coisas a dizer... lembramos do recado que ficava no portão... Dizias que ainda havia ficado a dúvida em relação ao autor daquele texto. O cara não mora mais lá, mas anda sempre por ali, rodeando a casa e o casal. Não tem nenhum movimento abrupto e as coisas vão bem, ninguém ultrapassa os limites do portão! Conversamos por pelo menos duas horas e a maré cada vez subia mais, acabamos tendo que entrar no carro, tirando-o da areia solta. Pouquíssima luz a nossa volta e o arrepio na pele era constante. A vodka era passada de mão em mão. Gostávamos do gesto, da relação de troca confinada dentro do carro. Havia a suspeita de um olhar distante. Poderia ser o tal homem, ele freqüenta essa parte da praia, ele viria em algum momento... O portão fica logo ali na frente! Mudamos de assunto, tínhamos muito a dizer.
Quando te vi, nessa noite, tive a certeza sobre as azaléias do jardim – era mesmo você que as havia plantado a um tempo atrás! Quando me viu nessa noite, eu estava um tanto impaciente, trazia dentro do porta-malas todas as tuas roupas e dois livros. Logo depois o homem da casa apareceu. Bateu no vidro do carro. Chegou a hora! Saíram juntos. Eu falei das roupas e esperei que as pegasse antes de ir. Simples e trágico!
Hoje à tarde deitei no jardim, vi as azaléias, também a cadeira e o copo de vodka que deixaste. Silenciou-te atrás da dureza do portão.
Não te vejo desde ontem à noite... a sucessão de quinquilharias começou!
Entendeu? é um símbolo, produção social, sabe? era disso que eu estava tentando te falar... arte como produção do olhar, não é atual, é novo! se isso não bastar, tenta entrar no portão!

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