quinta-feira, setembro 21, 2006

O mercado funciona normalmente todos os dias

Qual a tua dor? Tá doente de que? Pelo menos ‘isso aí’ tá na moda? Nada pior que estar penando por alguma coisa que não seja atraente! Para além disso, meu caro, sofrer pra que?
Li um artigo na revista Trip que me pareceu de bom tom e divertido. Sigo partilhando algumas inter-associações que fiz...
Ah, o mal do século! Ah, os ultra-românticos! Até a década de 50 era chique ser tuberculoso! Dentes amarelos, muita fumaça e tosse pra dar e vender! Poemas bem gesticulados e cerimônias de gala, mas tinha que ter tuberculose!
Anos 60, existencialismo, e a famosa “náusea do Sartre”, quem não lia “A Náusea” de Sartre era defasado mesmo! E não bastando a leitura, tinha que sofrer do mal disseminado pelo livro, afinal, a onda aqui era ser sensível e se encher de questões existenciais: se eu existo, então quem sou? E por aí vai... o que mais me alegra é pensar que era um livro o mediador das mais novas tendências comportamentais! Hoje em dia, teríamos algum livro com o poder de nos comover a ponto de morrermos? Se formos levar em conta os tempos atuais, lemos livros de auto-ajuda e aqui a intenção é a de viver e viver mal! Melhor seria morrer, não acham? Ou a preferência é por ficar sendo vigiado por algum poder divino capaz de nos liquidar a qualquer hora? Ora, ora, é bem melhor usar o corpo, vivê-lo; e a morte, de fato, é uma experiência e tanto de vitalidade! Rárárá... acho que a garota aqui está sofrendo da “náusea do Sartre”, muito tempo depois... nada nada moderna!
Chegamos na década de 70 e, segundo o artigo, vivia-se o tal “bode”. Quem sofria de bode é porque tava mal... e ainda tinha que estar “na fossa”: dor de amor... quando se estava na moda e de bode, o melhor mesmo era ir pra um bar, cantar um samba e beber muito! Afogar as mágoas num belo porre era “de ponta” aqui! Os bodeados estavam a maior parte do tempo encachaçados e cantavam: “pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem...” O artigo ainda apontava como bodeado famoso, na atualidade, o cantor e compositor Marcelo Camelo do Los Hermanos, e com isso muda também o hino bodeado para: “Poderia até pensar que foi tudo um sonho, ponho o meu sapato novo e vou passear, sozinho, como der eu vou até a beira - besteira qualquer - nem choro mais! Só levo a saudade, morena, é tudo o que vale a pena!”
Ai, ai... o bode é contagioso, sem dúvida! E dóóóói...
Nos anos 80, o tédio básico era o grande lance do momento! Ou a pessoa saia para dançar Madonna ou ficava em casa curtindo um gostoso tédio! Nada parecia mais atraente, as sensações e sentimentos tinham perdido a graça - caía tudo num amplo e produtivo tédio! Para completar o visual: muita roupa preta nessa hora! Que tédio!
Eis que chegamos na nossa conhecida década de 90 e aos seus modernos seres hedonistas! Tudo é bem melhor e atual quando se tem prazer, é ou não é? Pois sim, sempre! Sentir náusea? Tuberculose? Estar “na fossa”? Bem capaz!!!
Para a galera dos anos 90 e, porque não dizer, de hoje, é muito mais tesão e moderno tomar um “E”! Muito melhor dançar à base de muuuito ecxtasy a noite toda! No outro dia, pra relaxar, fumar um baseado e/ou cheirar uma carreira pra ficar ligado de novo! Tudo com muito prazer, disposição, um corpo sarado e sem limites para a diversão!
Claro que o futuro não importa! Como estará o corpo daqui a 20 anos é coisa pra tuberculoso pensar! ... sobre a passagem das horas... só interessa aos caras que lêem Sartre, sem falar em ouvir samba! Humpf, só mesmo aqueles velhos que não ‘pegam mais nenhuma’ e só vêem de longe a tal garota de Ipanema...
Importa o presente! As novas tendências! Não dá pra ficar pra trás! Estar na moda é imprescindível e conveniente, afinal!

Viva o atacado/varejo do homem de ilusões!
Da minha parte quero ser Gene Kelly e dançar!
Alguém pra me acompanhar?

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