quarta-feira, agosto 02, 2006

porções básicas

um turbilhão acetinado de convulsões pereclitantes...
as minhas mãos estão sem os anéis faz mais de duas semanas! esqueci no lavabo da casa de uma velha amiga- as duas muito ocupadas e morando em cidades diferentes não conseguem encontrarem-se para a devolução! putz, putz... eu quero os meus anéis! fiquei percebendo esquizitices em mim...
até parece que os meus dedos encurtaram, sei lá! o que, de fato me fez pensar que o ato sexual pode ficar um pouco atordoado com dedos tão pequenos... penso na mão, no toque, no laxante, e em primeiro lugar na vitamina C! ando comendo pouco ferro... congelei alguns potes de feijão... insisto em alimentar-me de vinho tinto!
tudo me parece, daqui de dentro da minha bolha, muito muito e muito rapidinho...!se me dessem um desejo básico, de porção básica: eu escolheria ouvir Maria Callas, bem atônita, andando pela casa vestida de branco e cantando uma canção em semi desespero! gostaria também de ver a Cássia Eller descascando uma laranja e comendo. a seqüência poderia ser Milan Kundera pensando sobre a insustentável leveza! seguido de Artaud ensaiando e treinando numa salinha pequena....
respira, Artaud, respira!
exaspero só de imaginar Marina Abramovic me dando qualquer tipo de informação sobre o seu contato com Buda e os seus famosos jejuns, os quais tanto desejo iniciar na próxima semana. e seguem próximas semanas- e a própria nunca chega!
ah, todas as minhas acetinações, não passam de um veludo barato para a imaginação! queria mesmo era ser Oscar Wilde e ter nada do seu narcisismo! já imaginou um Oscar Wilde bom coração? humilde e sentindo compaixão do mendigo?
assim ele seria mais perto de mim, desse meu lastimável trauma de menininha que tem as bochechas vermelhas e ouve os outros dizendo que ta ficando roxa, toda vermelha! que tem vergonha!
hoje eu sei que reflete ascenção da adrenalina e é charmoso esse efeito... mas antes! humpf!
nesse intervalo de tempo e de amadurecimento, os meus tecidos internos já parecem bastante costurados, rearranjados... e ainda assim, teimam em rasgar vez em quando, um pouco mais...

como é bom poder "tocar" num personagem!!!

3 comentários:

Anônimo disse...

quanta imagem!!! e eu aqui so imagino o que passa nessa tua cabecinha... muitas saudades e vontade de dividir trechos de nossa existencia apartada... te amo!

Carina Sehn disse...

assinaturas anônimas, desde que sinceras, me interessam!
abraço, anônimo!

Anônimo disse...

Embaixo da minha cama tenho um velho baú que volta e meia abro para encontrar-me com pequenas porções de alegria. Naqueles dias em que as nuvens estão escuras e não dá vontade de acreditar em qualquer coisa, o velho baú me lembra que existe vida além da chuva lá fora e que mereço um pouco mais do que o mundo tem me dado.
No baú há muitas coisas, de diversas fontes. Uma sapatilha de ballet da minha infância, e até uma bailarininha de porcelana que ganhei uma vez por ter sido a melhor da turma naquele ano. Algumas fotografias amareladas, e outras nem tanto, com a característica comum de congelarem apenas bons momentos. Lembranças de família. A rolha de vinho do meu primeiro porre. Cartinhas, muitas cartinhas, dos tempos em que escrevíamos em singelos papéis de carta perfumados e acreditávamos mais no amor. E centenas de coisinhas de Maria Callas. Me sinto viva ao cantar a Habanera com meu conjuntinho de camisola de cetim e robe de seda pretos.
Lembranças do meu avô, que amava Callas. Aliás, em tempos remotos, ele foi seu namorado imaginário, e só não se casaram porque ela estava cheia de compromissos: sessões de fotos, concertos, autógrafos, gravações de novas e velhas canções. E para ter um lugar onde colocar essa tristeza, ele ia guardando tudo isso no baú. Mas quando a tristeza apertava mesmo, para valer, aí então ele passava horas a fio olhando as fotos e desenhando caricaturas, na esperança de que, ao enfatizar seus defeitos, a paixão se desse por conta de que deveria doer menos.
O amor é um pássaro rebelde que ninguém consegue aprisionar. E não adianta chamá-lo, pois ele foi ensinado a fugir. Si tu ne m'aimes pas, je t'aime. Si je t'aime, prends garde à toi!