quinta-feira, junho 18, 2009

desses riscos todos

era noite. houve uma despedida. ainda não estava certa do que havia feito. as luzes eram dos três lustres que se mantinham acesos desde a manhã no quarto. a cama estava desarrumada e eu fiz questão de pedir para que não entrassem no quarto naquela manhã. eu não sairia dele, pelo menos até encontrar a roupa perfeita. as luvas que melhor combinassem com os botões vermelhos da gabardine. tinha uma preta, uma azul escura e outra verde musgo. escolhi a preta. sem sudácias visuais: hoje, o desejo era de não ser nem vista! o relógio não parava! o controle... vi os três controles remotos espalhados na cabeceira. eu os olhava e desejava sair do meu centro. sair daquela consciência toda! sair dali! minhas mãos que sempre se mantém secas estavam frias e suadas. enfim decidi sobre as luvas e pela camiseta branca. calcei as botas. escondi as mãos. levava comigo um pouco de dinheiro e pequenas dúvidas. não tinha glória aquele momento. tinha um piscar de olhos. uma constelação de efeitos. uma vontade de me perder.
desci as escadas. pensava em tomar um drinque. lembrava que o me avô levantava cedo e procurava o cavalo dele na fazenda. quando o encontrava, eles tinham um mesmo trajeto. tinham um gado para alimentar e ele tinha ainda os quatro filhos para coordenar. meu pai me contava que sem que o meu avô visse, ele cavalgava para mais longe e sentava por um tempo embaixo de uma árvore enquanto o cavalo se alimentava. se o pai descobrisse não gostaria, afinal, o cavalo é um operário na fazenda e se alimenta no estábulo, no cair da tarde e não naquela hora! estava errando se fizesse aquilo!
eu aqui tão distante do meu avô... do campo... dos cavalos...e, principalmente, do meu pai! ah, se ele soubesse por onde ando me perdendo ultimamente é provável a reprovação em relação a provar desses riscos todos! não é uma atitude inteligente e sensata, minha filha, diria.

Um comentário:

Sissi Betina disse...

sim, eles estao sempre lá, em nós, dentro ou fora das luvas