terça-feira, junho 27, 2006

qualquer coincidência é mero formalismo!


sabe o que tem de melhor nessa copa?
saber que todos estão em frente à televisão e lá fora as gaivotas sobressaltam em mais um vôo, o mar continua de onda em onda, as flores em pleno crescimento! vou até o jardim... (hoje acordei com menos coceira, Ana C!) aumento o volume do som. não tenho vizinhos; e se os tivesse, eles estariam, agora, bastante concentrados em ver o rumo da seleção. essa, tal seleção, milionária e com manobras de massa avassaladoras!
é claro que não te convidaria para ir ao teatro! aliás, tenho achado o teatro um pé no saco! cadeiras desconfortáveis, vozes impostadas, gestos artificiais e um fechamento desproporcional em si mesmo, coroado pela bênção de não sei qual deuses... perdidos em algum mito nem mesmo embalsamado! corpo transformado em forma imóvel, estatuária - sem fluxos! buscando convencer não sei quem, que o melhor mesmo é ir com a corrente do rio, espalhando flores em todo o vestido... credo! Ofélia?! não! poupe-me da castração de figurações edipianas! aliás, meu querido Freud, agradeço por me saber um sujeito pleno de desejos, mas tenho que reconhecer a tua constante imposição teatral! basta de Hamlet e de Ofélia! e, também, não me agrada saber de nenhum Tristão e nem de alguma Isolda! seqüência tão... mas tão formal quanto esse jogo de futebol! equipe pré-determinada e com posições marcadas! pregressas de algum aconselhamento e determinação na caverna!
é só aparentemente que o amor e a felicidade são contraditórios! podem ser, enfim, na tragédia!
mas, aqui, nesse país parado em frente à televisão.... nesse mundo parado em frente à televisão... posso apostar que a essa hora tem alguém em alguma casa de campo sorrindo e ouvindo uma melodia doce por saber-se livre! por saber que algo em si está sempre fluindo de dentro para fora e de fora para dentro e, que se estiver atento... ah! sentirá um frisson lhe tomar o corpo... as gaivotas voarem mais e mais alto, o barulho do mar tornar-se mais ligeiro...
longe. bem longe... estarão os barulhos negligentes e atordoados de um mundo competitivo, organizado pela lei do mais forte! organizado sob uma perspectiva de mito-estátua de água parada.

3 comentários:

Anônimo disse...

eh, eu fico entre o repensar a postura ou ver qualé a deles (galera do mundo organizado e competitivo) na real, se tu não te posisionar entre os "competidores" tu vai ser pisoteado, e n me refiro aos jogos, mas sim a vida, então, pq não observar as gaivotas enquanto se planeja uma estratégia?

Telma Scherer disse...

maravilhoso!! de ofélia ao futebol!!
quem está em uma casa no campo acho que compreende até melhor, sabe por que?
tem uma noção de tempo em jogo, os tempos que são instaurados por obrigação em choque com os tempos pessoais/subjetivos. e a natureza deixa a gente sacar muito melhor os segundos.
além disso, esse texto faz uma ótima relação entre a crítica (social, política, de comportamento ou qual seja) com a observação estética, tudo aliado a um momento corriqueiro aparentemente inquestionável (os jogos da seleção).
é uma belíssima crônica e recebe meu aplauso incondicional.

andressa cantergiani/imbloc disse...

eh...amiga lost generation...hehe
acho que ando meio niilista!
Mas gosto que vc sempre tem um lado que percebe um outro lado, se é que vc me entende...