quinta-feira, junho 01, 2006

primeiros dias.

Primeiros dias de inverno... A estradinha de acesso era de barro e a chuva recém havia caído. Uma daquelas chuvas de final de tarde, que cai para confundir o fluxo do trânsito. No campo, como o trânsito mais comum é o das charretes, a estradinha estava vazia e silenciosa. Joana estava já, perto de casa. Decidiu mudar o caminho. Resolveu ir pela beira do rio. As botas marrons começavam a umedecer e ela subiu as bordas da calça jeans. Fechou a jaqueta, para proteger-se da hora, e continuou andando. Que bom não ter nada para carregar, pensava. Afinal, é bom ter as mãos livres para cumprimentar as plantas úmidas.
Ria sozinha... bem à vontade!
Não haviam barulhos ali além dos seus, e quando viu, escapou por pouco do tropeção numa pequena cerca de arame farpado que impedia o acesso à cachoeira. Talvez não seria mesmo, uma boa idéia passar por ali àquela hora do dia. Afinal, com aquela chuva a noite viria antes, cairia mais impiedosa, cogitava Joana.
Olhou profundo à sua frente... todas as horas do seu dia se transformaram num passado distante. Era a partir daquela hora, final do dia...propícia para a morte, que ela passaria a viver com uma intensidade recobrada, com uma consciência fresca, de que a vida vale a pena ser saboreada! Não pisada com botas e rebatida com uma jaqueta fechada.
O verão estava nela, enfim, desnuda dentro. A suavidade e a clareza de desejos estampavam naquele rosto uma saciedade de quem já não precisa mais mentir! Os esconderijos, a partir de agora, tinham ampliado a luz interna.
Virou de costas para o rio. Viu a estradinha. Prendeu o cabelo para passar entre os galhos. Abriu a jaqueta.
Naquela noite mesmo ela confessar-se-ia apaixonada. As luzes amarelas, da estradinha, acendiam devagar... compassadas.

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