terça-feira, maio 16, 2006

bem leve!


bem provável que as movimentações só tragam o novo tiro para a pistola. talvez só tragam mesmo a nova “coleção” de um novo amor. talvez ainda mais contenham as satisfações em responder o quê é que eu estou fazendo aqui, nesse quarto. as movimentações só me engolem. eu nem trago mais! transpiro um charuto antigo, bem usado e que já apaguei faz tempo!
esse é o ponto: já não uso cachimbo, meu caro!
dormi com quem acabou de sair!

quarta-feira, maio 10, 2006

carta um


meu bem,

Novamente te procuro em mim.Ouço tango, pois são os únicos acordes que podem preencher as minhas frestas. Do“Tango” do Saura, lembras? da música que o protagonista ouve sempre. Não tomo vinho, fumo cigarros e me acompanha uma cerveja barata, hoje. Escrevo de pé, sobre o aparador de luz branca, e imagino o apartamento vazio, a beira de deixá-lo. Deixando o meu cheiro, mas não a minha presença.
Tenho, ultimamente dormido muito fora de casa e na companhia de amigos queridos- lugares onde se pode falar e ouvir música sem marcas profundas.
Ontem estive no tal bar. Vi e reencontrei muitas pessoas, inclusive os garçons. Tomei umas várias taças do vinho da casa, que diga-se de passagem, melhorou muito... o telefone tocou. A mesa encheu. A banda começou a tocar. A tua presença, já não se entoava. Lamentei. Um brinde ao etéreo!
Na companhia de íntimos se pode falar do seu filme preferido. Foi o que mais me divertiu: narrei ele, todinho! E a sensação era de gozo social. O quê, não acreditas? Eu sempre passo por alguma situação dessas: impregno-me da ilusão de a banda nem mais estar tocando ou estar tocando muito alto.
As quedas, os aforismos... sempre são necessários para melhor capturar o sentido das palavras. Não se entende da morte, se não se acompanhar um funeral, não achas? Lembro sempre do caixão se fechando- esse foi o momento mais chocante! Mais fantasmagórico!
Como farei para te contar sobre todas as coisas que ando vivendo? São tantas as alucinações, posso parecer-te um tanto esquizóide! E não quero causar boas impressões- estou muuuito pior que isso! Estou perplexa diante de tantas ocasiões! Nem posso passar a enfileirá-las!
Estou sorrindo, você está?
O que mais têm me enjoado são as crises paranóicas dentro de casa! como diria, Anais Nïn, “não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos”. Talvez seja essa a resposta para a falta de paciência com os outros!
Ou ainda, para falar-te a verdade, eu prefiro Oscar Wilde! e creio ser essa frase dele aqui, uma continuação fatal para a de Anais: “sou a única pessoa no mundo que eu realmente queria conhecer bem”.
Hoje tive vontade de invadir a tua casa, meu bem! Somente não o fiz porque já não estás mais nessa pequena-grande cidade. Queria tirar o teu fôlego com tudo o que mais gostas! Compraria os teus chocolates preferidos, te daria uma bela companhia, cigarros, um bom vinho e muitas, muitas referências para um pequeno diagnóstico! Bem ao nosso suave gosto de jasmim!
Nesse momento o tango, aqui, tem um salto de tom e fica agudíssimo!
Outras pessoas aproximam-se e eu disfarço! Dissimulo uma overdose de sentidos, sou feliz, enfim... canto, e até mesmo beijo- saliento a idade pouca e o corpo pleno de desejos evaporando-se.
Conduzo somente vibrações ferventes, dear, bem o sabes! Dizer que não- é bobagem pouca! Dizer que não- é quase pedalar no inverno sem sentir o as mão endurecerem. Quero que não se negue mais nada a meu respeito e quero, talvez, muitas afirmações. A là Maria Schneider! Um brinde ao seu chapéu branco! Ao seu grito no banheiro! À sua pressa em escapar do amor!
Não tens a sensação que depois de um tempo tomando vinho, os teus lábios ficam mais sólidos? E, que, qualquer pessoa que beijares te sentirás excitada?
Bebi demais, meu amor! Caio de sono, de peste, de silêncio na cama de outrem. Ouço ainda algumas vozes que ficam cada vez mais e mais longínquas: Ó tu bela que veio... esses rituais de Stanley Kubrick sempre nos preteriram? I don’t think so!
Não gosto de pensar na hora de acordar! Só de vez em quando...com verdes matos cercando a cabana, clareiras e flores aquiecentes, café da manhã, e um sorriso lindo, como o teu... bem em frente aos meus olhos, ainda sonâmbulos!
Prefiro lembrar, quando eu acordar, que já nem mesmo existes. Não te posso tocar, meu amor, como faço para mudar de idéia fixa? Quem sabe a tua próxima viagem não seja para bem fora de mim?
Te amo como sempre.
Até; quando o vento me/ te trouxer...
Nina.

domingo, maio 07, 2006

desculpa para um tango!


Audaciosa você, hein? Sábado à tarde... invadindo o quarto de cima para me pedir um sabonete...?! Londres e seus apartamentos conjugados! Naquela noite estava insone, tentando responder a correspondência em atraso e beber menos uísque. Aqui, só se pode beber destilados, ao contrário, os dentes amarelam e a voz fica bastante enfraquecida. Não me atraem os pubs enfumaçados, mas sim, os parques coloridos pelas flores da estação, a grama verde brilhando... eu, em definitivo, não pensava em higiene pessoal agora!
Como ousas, aparecer-me com essa questão de sabonete?
Pois ela dificilmente pergunta, vai entrando... conhece as regras. É sedutora, me deixa bamba. Quando prende o cabelo, o pescoço vira tabuleiro de dardos! Jogo todos naquela direção! Nessas tentativas ao alvo, já beijei muito a boca dela e olhei muito dentro daqueles olhos... mas agora, me faço de avessa. De descontínua. Saio, disfarçada. Não sugiro encontros clandestinos, nem convido-a para tomar sol comigo embaixo das cobertas no jardim...
Digo pra pegar o tal sabonete na prateleira do banheiro.
Considerando que não transamos a dois dias e que eu nem tomei banho, o quarto todo coberto de roupas e livros sobre a cama, cigarro na escrivaninha; ela deveria ter a impressão de que estava encaminhando-me para um isolamento de penumbra e que ao cair a noite estaria na companhia de corujas, não havendo espaço naquele momento para...
Ops! Pensamento interrompido! a toalha caíra e o tabuleiro flechado bem no centro! Entre as pernas- a permissão: o banho que me faltava!
A idéia para um novo texto uivava...

exercício dois

Bem... àquela altura eu já não sabia mais se estava ali para falar quaisquer coisa. Quase fechava os olhos para sentir... não tinha muitos movimentos. O que eu faria de melhor era olhar. Apenas ver. Pintavas uma nova tela e misturava as cores ali mesmo, todas juntas em cima da mesa de madeira escura. Não nos conhecíamos direito. Em comum, o que tínhamos era a amizade de Caio, o qual nos havia apresentado, na noite anterior, uma à outra. E foi através dele que obtive algumas informações acerca de ti- saída de uma longa relação estavas, agora, solteira e trabalhavas com produção de vídeos.
Quando toquei a campainha, ela apareceu tomando uma xícara de chá. Pés descalços e uma calça jeans azul-claro. Camiseta verde e desenhos pretos. Um leve traço de maquiagem no olho e cabelos lisos. Convidou-me para entrar. Para conhecer a sua nova distração!
Ah, então tu também pintas? Não, não, é só uma brincadeira! Brincas bem, não? És bastante convincente! E nós sorríamos... as mãos dela tinham movimentos longos, nada ela fazia com pressa, era cuidadosa e sutil. No entanto, tinha no seu jeito, um toque de revolução! Transformava idéias em objetos, enfim. Não sabia ainda porque, mas havia feito, em relação a ela, uma associação barata com o modernismo. Eu estava atenta. Tínhamos muito o que conversar e nenhuma pressa para tal. Tudo poderia ficar para depois, se quiséssemos.

Falei de um novo tempero que passava a usar: coentro. Servia para temperar peixes... o telefone dela tocou. Conversa ligeira. Enquanto isso, olhei minhas mãos e estava sem os meus anéis. Confesso ter ficado um pouco insegura. Ela comentou sobre os meus sapatos e cada vez mais modernista! Arranhando-me por dentro uma frase bem ao gosto da semana de arte moderna: você não precisa pedir licença!
Já não me faltavam só os anéis. Somavam-se desejos. Estávamos mais perto.

exercício um


Ontem era quase uma afasia. Movimentava-me como quem medita e não como quem tem atitudes. A coceira era interna, sentia entre as pernas, constante. Lembrei, antes do almoço, do momento que te encontrei. Havia sido no dia anterior, por acaso: a imagem do teu aceno, catastrófico, me fazia rir: derrubavas toda a tua bebida no colo do senhor de terno que apenas passava por ali. Eu, não me contive e ri, tu, enrubeceu. Foi, ao cabo, um movimento involuntário, emocionado...
Já não nos víamos por tempo inadvertido- eu, tendo estratégias de clausura. Bem, tirei a echarpe que vestia e andei rápido para oferecer, sutilmente, ao senhor que fora lesado pelo arroubo. Peguei na tua mão e saímos, cúmplices. De volta ao bar, outra bebida e te falei sobre o pastor luterano que era meu confidente: ele faz “cavalinho” com a mulher e agora apaixonou-se pela aluna da classe de psicologia! Você, estava agitado...confuso. Dizia-me que preferiria ter pedido um chá, que o estômago não ia bem...
A noite já caía, lívida. Fazia frio. Prenunciei ir embora. Deu discussão. Pude sentir cair sobre ti uma camada espessa de desgosto, olhar atônito. - Já não fulguramos mais, nossos intervalos não são sincronizados! E, pra falar a verdade, a coceira está aumentando a cada novo instante; preciso ir!
Depois de apagar o cigarro e te beijar, de lado, aconselhei a leitura da revista que estava sobre a mesa. Te deixei em boa companhia, enfim.

Mesmo esquecendo-te, não te esqueço, querido!
A afasia continua, meditando-me. E já se passaram 24 horas!

sábado, maio 06, 2006

o pouso


Não fazia muito que o avião pousara... O tempo foi o de deixar as malas em casa e tomar um táxi até o lugar onde queria estar!
Era início de noite, a viagem havia sido longa e eu já não a via por um bom tempo. A lua cheia e amarelada. as chaves do apartamento haviam ficado comigo; eu simplesmente abri a porta! O apartamento estava escuro já. Fui até a cama, relaxei as costas cansadas. A previsão era a de que ela chegasse em seguida.
Então... um tempo depois, ela abriu a porta. Acendeu a luz do hall e entrou. Todos os dias ela chegava diferente- humor variável- e naquele, estava silenciosíssima! Eu, esperava o momento que ela me visse, ali, deitada sobre a sua cama, recém acordada, pregressa do intervalo de realidades, o qual pertence o ato de dormir. Saída do estado de vigília, segundo Freud, rumo ao inconsciente. Mas isso não importava, era só um desejo íntimo meu e a realidade, dificilemente, é condizente com as nossas tantas expectativas, não achas? Eu estava acordada, enfim e apenas tentando relaxar...
um tempo depois, ouvi a fechadura, era ela! As luzes do hall acenderam e a porta fechou. eu sabia que ela chegava todos os dias diferente- humor variável- e nesse dia, em especial, a percebi silenciosíssima...
Ela passou então, pelo living e por certo que, agora, viria até o quarto! ui! ai! - ah... calma coração! ela entrou no banheiro, e fechou a porta? Ah que engraçado; até parece que ela desconfia ter alguém em casa, ou então, porque a porta do banheiro fechada? Eu não queria falar com ela, em definitivo. Não queria, num primeiro momento, que ela me soubesse ali, queria sim, saber como ela estava, com quem falava, como se dava a sua rotina... suavizando assim, a minha chegada! Saber onde era mesmo que eu estava chegando.

Tentei aguçar mais o ouvido. Ouvi um ruído constante vindo do living. Ela estava no banheiro, será que poderia ouvir? Quando eu já pensava desistir de ficar às escusas e ir ver, enfim, o que é que era; ouvi a porta do banheiro abrir... ela foi atender o telefone celular- era esse o barulho que eu ouvia.
Falava manso, em tom de cumplicidade. Sorria harmônica. Eu, tentava descobrir com quem falava. Ela entrou de novo no banheiro, acompanhada, agora, pela conversa ao telefone: poderíamos marcar para as nove?! o que acontece é que eu acabei de chegar em casa e ainda tenho que tomar um banho... mas prometo chegar aí para experimentar o licor. E, por favor, sem personagens nessa hora, ok?
Hum, com quem será que falava? E continuava: levarei os relatórios com as primeiras impressões...
Ah, é claro, só poderia, ser! Era o novo diretor com que trabalhava! Aposto que ele devia estar marcando um daqueles ensaios noturnos para hoje à noite, justo hoje à noite!

Nem mesmo consegui perceber como acabara a conversa, mas ouvi um suspiro de alívio dela e a sua respiração cada vez mais perto, mais perto... quando pude perceber ela estava tirando a blusa em frente à cama. Seios nus, pequenos, cabelos soltos e a calça jeans que eu adoro!
Ela me viu, enfim!
Devo ter ficado atônita! Soltou os braços demoradamente... num longo movimento. Paralisou por um momento e sorriu- o sorriso mais nervoso que já vi brotar-lhe dos lábios. Disse, em tom sussurrado: não imaginei que estivesses aqui! E num impulso, deitou-se sobre mim, num longo abraço, cabeça no peito. Senti o peso do corpo dela, senti o cheiro que era diferente. Não tinha mais o costumeiro e afrodisíaco, cheiro de pitanga. Era, agora um cheiro um tanto mais amadeirado sobre a pele. Audacioso... estava mais branca, e eu, igualmente devia estar mais pálida...
O tempo, de fato havia passado. Estávamos diferentes, as duas. Os gestos não tinham o mesmo brilho de quando nos despedimos. Tinha muito de espanto agora, de reconhecimento. O apartamento estava escurecido e sem música. Propus uma. Em seguida propus uma bebida- a saída para aquela intimidade com referência antiga.
Recomecemos! (como se isso fosse possível em vida real.. não se tratava de um sonho! Freud, Freud... já estava feito! em realidade! vigilante!) mesmo assim, levantamos as duas juntas, harmônicas. Estávamos dispostas, ahm? Ela falava do meu cabelo e eu beijava o seu pescoço. Fumamos um cigarro atentas, sobre o tapete do living.
Foi na hora de nos despedirmos que pudemos relaxar mais. Agora as horas seriam marcadas. O ensaio era, mesmo, para aquela noite.
E eu, desfaria a malas, com urgência!