quinta-feira, novembro 12, 2020

pensamento passa

neste momento onde tudo está mudando na minha vida, sinto que tem momento em que penso excessivamente e em muitas vezes são pensamentos repetitivos e que tentam fixar informações na minha mente racionalizante lotada de projeções, nomes, códigos, regras, estratégias, classificações, julgamentos e representações. não busco me conectar com estes pensamentos ilusórios, todos apegados e um tanto pesados. solto. deixo ir. deixo vir e ir. como uma onda. apareces no meu pensamento, me invades e eu observo isso acontecer e também observo que deixa de acontecer quando eu me conecto a outra coisa que me traz vibração outra ao corpo. por exemplo sei que quando vem o pensamento fixo, é um grande exercício de atencão plena, pois este pensamento um tanto obcecado, também passa, também pode sim ganhar mais espaço dentro, se dissolver mais, assim que eu estou inteiramente aqui neste momento. o pensamento geralmente está no passado ou no futuro. lembra ou expecta. quando se mantém no passado lamenta e se ressente pelo o que já aconteceu e quando se mantém no futuro gasta uma grande quantidade de energia ao tentar prever o que poderá acontecer. manter a mente refém dos pensamentos me tira do aqui. existem diferentes maneiras de se exercitar no corpo a atenção plena, meditações, respirações, etc; no entanto o que eu percebo e sinto como sendo uma ponte para esta presença mais integra, está no meu caso, completamente conectada com voltar-me para aquele momento que se repete: tu me olha de longe, e me chama em um gesto com a cabeça, eu vou, estamos na garagem guardando uns objetos do fim do evento, as pessoas já foram, mas ainda tem algumas, contra a parede da garagem eu me entrego a um beijo adolescente, fazia tempo que eu não sentia isto de vamos nos beijar aqui escondido, fora do presente, quase etéreo, depois saímos como se nada. adolescentes em plena vida adulta. onde está a minha presença? onde está a minha consciência. depois de umas cervejas e de abraçar contigo sentada no meu colo lá no terraço, agora um beijo na garagem? onde está a minha lucidez, tem algo no mínimo inconsciente aqui envolvido que me mantem nesta imensa zona de desconforto, com pequenas doses de prazer absoluto. um tanto de excentricidades, estou fora do centro todo o tempo, rodopiando em torno do meu próprio ego iludido, paixão que me repete. me torno previsível não gosto de mim e as vezes me maltrato não não faço nada físico não, o que eu faço é amontoar-me dentro com vários pensamentos alucinantes e infiníticos em torno do centro do desejo, passeios intermináveis, conversas urobóricas, desejo tanto que esqueço de viver. fazem dois dias que eu só leio e não sai uma linha, até escrever me desfoca do foco caótico de um ser que está a mercê de si mesmo, ah como estou enfadonha... as mensagem de texto, todas egoicamente justificantes, e não chegamos a um ponto em comum, aliás estamos indo para direções ___. tu está sonhando acordada a dois dias eu nem sonho aferrada à materialidade do desencontro. isto deve durar até o  final desta noite, mais duas mensagens de áudio longas e juro que não tenho mais nada pra dizer. mudo a direção. saio das nuvens e sigo o caminho da terra. 

frequência

oscilação. librianos tendem a oscilar. colocar em dúvida. afinal a balança o que faz? em termos mais formais é usada para medir a massa dos sólidos e líquidos não voláteis com alto grau de precisão. então quando se pensa em um ser que nasce sobre este sol, simples atos do dia a dia podem ser um tanto complexos. é importante se saber parte de um todo e que este todo esteja se relacionando com ele. te escondo em mim. me escondo de mim. sonho o que já só parecia realidade.ilusão se aproxima. posso sentir. 

te come!

estou sozinha. uma solidão que a muito tempo andava esquecida nas artérias. nas veias, no sangue que circula desde o coração. sozinha dentro. o coração meu. aterrou. encarnado. comigo. só. a solidão é agora. noite de quinta, 23h, escrevendo na mesa da cozinha vendo a avenida com carros passando ao lado e à frente os instrumentos mágicos de sutilização. um corpo sutil que vaga. te encontrei, fomos ao cinema. te conheço a 6 meses. dentro desta solidão, parece muito mais.  tu me falas e eu atualizo em mim a tua presença. estás em vôo, tens medos, não desejas te entregar, muito, não desejas te queimar com o fogo - todas estas ressalvas - estratégias para controlar o que? o coração? ou a identidade? de que não queres te livrar? concha. ostra. bolinha dentro do mar profundo, toda fechada, toda cerrada em si própria. fechada de quê? já perguntava em 2005 no meu espetáculo solo para uma plateia que após a performance saia falando isso: fechada de quê? - virou clichê - ainda ressoa inovando em mim uma primavera da identidade. estou toda modificada. segura de mim. forte. acolhida. quente acariciante. não senti tesão. não vibrei na tua direção como já vibrara antes. senti como se nos despedíssemos, algo mudou. a paciência talvez? a vontade de deixar de lado a conversa e beijar a tua boca. ontem Nique me dizia: quando estiver sentindo quaisquer desconforto em relação aos afectos, olha pra toda esta cidade aqui na tua frente, olha pela janela e vais ver que cada uma destas luzinhas indica uma vida ali dentro, possibilidades combinatórias variadas. eu gosto de ti. despedida. abraço de gancho. assim de repente. sem avisar. foi ótimo te encontrar. não pelo filme. por nós. beijo na bochecha. sinto que algo mudou aqui na minha solidão. estou ainda mais dentro em mim. me como.