quinta-feira, novembro 12, 2020

te come!

estou sozinha. uma solidão que a muito tempo andava esquecida nas artérias. nas veias, no sangue que circula desde o coração. sozinha dentro. o coração meu. aterrou. encarnado. comigo. só. a solidão é agora. noite de quinta, 23h, escrevendo na mesa da cozinha vendo a avenida com carros passando ao lado e à frente os instrumentos mágicos de sutilização. um corpo sutil que vaga. te encontrei, fomos ao cinema. te conheço a 6 meses. dentro desta solidão, parece muito mais.  tu me falas e eu atualizo em mim a tua presença. estás em vôo, tens medos, não desejas te entregar, muito, não desejas te queimar com o fogo - todas estas ressalvas - estratégias para controlar o que? o coração? ou a identidade? de que não queres te livrar? concha. ostra. bolinha dentro do mar profundo, toda fechada, toda cerrada em si própria. fechada de quê? já perguntava em 2005 no meu espetáculo solo para uma plateia que após a performance saia falando isso: fechada de quê? - virou clichê - ainda ressoa inovando em mim uma primavera da identidade. estou toda modificada. segura de mim. forte. acolhida. quente acariciante. não senti tesão. não vibrei na tua direção como já vibrara antes. senti como se nos despedíssemos, algo mudou. a paciência talvez? a vontade de deixar de lado a conversa e beijar a tua boca. ontem Nique me dizia: quando estiver sentindo quaisquer desconforto em relação aos afectos, olha pra toda esta cidade aqui na tua frente, olha pela janela e vais ver que cada uma destas luzinhas indica uma vida ali dentro, possibilidades combinatórias variadas. eu gosto de ti. despedida. abraço de gancho. assim de repente. sem avisar. foi ótimo te encontrar. não pelo filme. por nós. beijo na bochecha. sinto que algo mudou aqui na minha solidão. estou ainda mais dentro em mim. me como.

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