domingo, janeiro 27, 2008

spiralling


a luz é só a do abajur agora. as outras me fazem ver a sujeira e apagam minha sombra, a legitimidade da sua companhia...
nesses momentos de finitude, é importante lembrar da temperatura do próprio corpo, sentir ela, saber do sangue que corre por dentro e dos cheiros únicos pelo corpo. tudo aqui é muito meu, se caminho para a direita encontro dois copos com restos de bebida. se caminho para a esquerda encontro mais outra dose me esperando - o suco de 1 laranja que deve acompanhar o remedinho repositor de ferro. a anemia continua e a bebida deveria ser substituida. o ponto é que não tenho conseguido fazer substituições em geral. não acredito que elas existam porque são pálidas e sem cheiro. aqui as roupas espalhadas não são elegantes e sim, representativas e intransigentes, visto o cheiro forte que têm.
não tenho mais tempo para recolhê-las. agora não!
definitivamente, depois de escrever esta carta eu vou deixá-la aqui de uma vez por todas! essa já é a quarta que eu escrevo, amasso e guardo na bolsa. dessa vez não!
dessa vez eu acredito piamente que vais entrar aqui, sentir o cheiro das roupas sujas, sentar na cadeira e saber imediatamente o quão podre e vazio é todo esse lugar, o teu lugar!
enquanto isso, eu deverei estar vendo o céu pela janela do trem, usando óculos escuros para ninguém perceber a temperatura do meu sangue, para que ele não salte por todos os meus poros.

"...não esquece de avisar a portaria de que ninguém mais entra aqui além de nós e que não queremos a presença de nenhuma arrumadeira!
... e, quando bateres a porta não mais conseguirás entrar, já providenciei tudo, saia daqui imediatamente!" *
*trechos da carta escrita às 22h

Um comentário:

Marcus Fabiano disse...

Nada como um abajur em dias ofuscantes de fotofobias.Viva o lusco-fusco dos sentidos e seus gradientes de penumbra. A vida em chiaroscuro, ou por entre filetes de persianas.

beijos

MF