segunda-feira, outubro 15, 2007

oração da tarde

eram quatro senhoras negras. elas vestiam branco e a mais velha um outro casaco marrom por cima. faziam tudo junto. abriam e fechavam caminhos. pediam. rezavam. oferendavam. acendiam. e nem se tocavam. tinha um vento frio e a estátua de Oxum ali vendo de cima. jogaram no rio. tudo a ela.
na hora de ir não podiam dar as costas ao rio e sairam andando para trás. como quem espreita. como quem protege. agora, já falavam umas com as outras sobre os trabalhos. sobre quantidade. tinham bacias grandes e saias grandes. pano branco na cabeça. lindas! o mais incrível foi vê-las entrando num carro. tinha um moço que provavelmente era filho de alguma delas e que falava ao telefone enquanto tudo acontecia... depois ele que as levava dali. no carro dele.
fiquei pensando se era um trabalho encomendado... bem, se foi, pode ter certeza que é dele já! ou não é dele mais! elas eram tão exuberantes que o rio inteiro se abriu e levou...

. são oferendas! tudo oferendas! salve oxum, salve minha mãe, salve meu pai! e também salve a livre expressão, o verde, o vento, the knife, caetano veloso, sinead o 'connor, chico buarque, minhas lembranças e condições ultrapassadas, mas que valeram nesse tempo que já era! não é mais! não serpa mais!
amanhã começa um ano novo! chega desse desgraçado inferninho astral! amanhã é o dia das oferendas! banho de rio! banho de audácia e perspicácia! que venham os relâmpagos de renovação! o horário de verão! sãopaulo no final da tarde! que venham as sequências de delícias pungentes! aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhh, salve todos os meus mais loucos devires! que venham , sejam e me façam!

Um comentário:

Anônimo disse...

que venha!!! que venha!!! que venha!!!