sábado, maio 05, 2007

antes de agora

pedi para que trouxessem a correspondência. saída do banho, perfume no pescoço, punhos e entre os seios. alguns trechos de Kundera não me saem da cabeça. escuridão e luminosidade. ter de fechar os olhos para entender, sentir.
sim, me perdi em devaneios e preferi o momento. por isso pedi a correspondência durante o café. ontem te vi. ninguém ali sabia de tudo o que havíamos vivido. agora é tudo tão diferente... quando nos despedimos tive certeza do quanto já me senti. do quanto faz bem estar aqui sozinha entre as minhas folhinhas de anotações. tudo no diminutivo para ser mais íntimo ainda! a noite chorando. acordei cedíssimo e me movi pouco até agora. tudo demora em existir e as horas correm e latejam a consciência. eu não procuro agora o que encontrei antes. a correspondência nem chegou. eu me encontrei já estando aqui. anotei em algum lugar e a alergia continua constante. meus diamantes - estado bruto. eu - impenetrável... muito mais! prefiro a latente evidência de já ter amado antes. lá... atrás... quando ainda não tinha aprendido a sofrer.
agora as coisas são mais organizativas e profissionais. não sou ríspida, não... sou profissional e leio e repito Ana Cristina César. não pensei ainda na sacada como êmbolo para o meu ânimo. abri a porta do carro, mas foi só para pegar as taças no porta-malas. quando cheguei e o lençol ainda estava desarrumado, acreditei na noite passada. como já dizia, nem dormi, a rua é mais miragem do que lugar para andar. nem saio. acendo mais um cigarro. mais outro momento. lembro de Henry Müller e suas calças para dentro da bota quando andava de bicicleta. ele saia para levar os textos que acabara de escrever. Ana Cristina César vestia um enorme chapéu e ia "pras aulinhas na Puc do Rio". eu, pinto as unhas e atendo o telefone. respiro e a única coisa que procuro é o próximo instante. o depois de agora. diamantinamente.

Nenhum comentário: