quarta-feira, março 01, 2017

é pré-individual

toda a vez que a grama me olha, eu percebo a minha limitação aqui. Eu não me espalho muito na grama do parque, trouxe várias coisas: um livro, cadernos de anotação - 5 diferentes - um para coisas leves, o outro para profundidades, um majestoso e no que neste momento escrevo: indomável. sinto-me assim, cheia de espalhamentos contidos. a implicação do possível. o chegar a ser fato. sinto o calor exalando do banco de cimento no qual estou escorada, vez em quando vem e me lembra de que a chama da paixão vem em mim em ondas intensas e depois suaviza, transforma-se em brisa, leve, um som, um sabor. no entanto, no entretanto permanece aqui, dentro, dá voltas, voltas, exala pela minha boca a lembrança daquilo que nem foi, suave barulho interno que não é anônimo, em nome e que me produz, expande e estabelece dinâmicas, movimentos de dobradura, relações sutis e uma estabilidade provisória. este calor que de quando em vez sai aqui desde banco e entra pelas minhas costas é de uma profundidade e cheiro de água muito funda, muito dentro, lá de dentro - quentesuavedenso. fundo obscuro singular - uma metamorfose de modulação contínua, louca para experimentar e de modificar pela experiência. nenhuma experiência passa ilesa, nada é à toa em uma vida que se dobra sobre si própria para sentir, intuir e desejar. é pré-individual o desejo dos corpos, que aparece vívido e apreciando o calor de estar sentado na grama pensando sobre desejos e no que eu te disse sobre a experimentação e o pós dela. fala sem experiência. mais uma vez o calor vem, me lembra da vontade-cavalo em mim, desejo muito a ver com água, grama e pássaros. vôo livre para seguir caminhando dentro. agora longe do teu olhar. já não podes me observar. agora quem me observa sou eu própria neste estado intensivo quente.